Ferreira Gullar sobre a obra de Ianelli

Não é mais mostras as formas do mundo
ou do sonho,
ou da natureza ou da imaginação.
Não é mais figurar, descrever, representar,
narrar, aludir.
Nem tampouco ênfase,orquestração
das dissonâncias,
dos conflitos de formas e cores.
Não há conflitos.
Pintar, para Archangelo Ianelli agora é
suscitar o surgimento da cor.
Fazer silêncio e deixar que ela (a cor)
imerja
nele – do cerne dele – densa, luminosa.
Vinda do fundo da sombra, a cor
      trêmula tênue
      como frágil aparição
      que fosse se apagar em seguida
Mas não: essa fragilidade é parte essencial
da aparição
como a chama que bruxuleia – por ser chama –
mas se mantém viva e ardente.
Pintar para Ianelli agora é mostrar a cor
pura duração...





Arcangelo Ianelli. Pic-nic, óleo sobre tela. 38 x 46 cm. 1950